Faixa a Faixa: Análise do disco “Simplicidade” do Biorki

O rapper e escritor Biorki colocou nas ruas semanas atrás o disco “Simplicidade”, seu primeiro projeto solo. O MC do Shekinah Rap e vocalista da banda DigitalBomb fez um disco de 13 faixas, onde algumas, já conhecidas e lançadas como singles ao longo dos meses e outras inéditas compõe a experiência sonora.

O disco abre com uma “INTRO” embalada a ruídos dos rádios transmissores, estalos de vinil e pulsações cardíacas, onde Biorki declama o que é “Simplicidade”, tema do disco. Biorki que em suas apresentações sempre traz accapelas ou rimas no formato slam poetry, é conhecido por sua habilidade também em rimas de improviso ao vivo: “Nunca foi classe, sempre foi essência. Em dias tão completos porque não dizer, simplicidade é resistência” – rima que fecha a intro.

Em seguida, o disco entre na faixa Iluminou: um beat do rapper e beatmaker L-ton (sim eu mesmo) e no melhor estilo rap + sample. Rimas fortes sobre sua caminhada e sua identidade em Cristo e o destino para a eternidade: “sei que é passageiro e não pode ser comparado com o que me espera se eu me manter firme no alvo”.

“ORIGINAL” é o desabafo do rapper contra o momento do rap brasileiro: Biorki acaba trazendo a tona questões que promovem reflexão e provocação a nova geração. Ele, um daqueles que achou voz no rap, se posiciona contra aos que hoje promovem apenas drogas e irresponsabilidade como marca registrada para ser um rapstar. “Original” foi lançada anteriormente e ganhou lyric video.

“Reflexo” vem um belo e harmonioso beat. Melodias e teclados seguram o clima e traz junto com as rimas diretas sobre o dia a dia e o cotidiano frio e egoísta da sociedade, regado a tecnologia e valores. Sem refrão é um chamado interessante a reflexão de quem você e eu temos nos tornado nessa caminhada cada vez mais solitária.

“CRUZ VAZIA” é um interlúdio onde rimando sobre quem Biorki representa, o rapper se intitula um “embaixador de Cristo para as ruas” e “das ruas para os crentes”, numa clara provocação a falta de diálogo entre a Igreja Institucional e as ruas das cidades que carecem de luz, verdade e salvação.

“EU VI DEUS” é a trajetória de Biorki do encontro com Cristo até o momento atual. É interessante a forma simples de como ele discorre sua trajetória de vida, sem pirotecnia mas com verdade. Mais uma das faixas liberadas anteriormente como single.

“VEM SER NA VIDA” com participação do também rapper Abel, faz um trocadilho interessante entre o desejo e o sonho de “vencer” mas convidando ao ouvinte a ser real e verdadeiro. Uma crítica ao desejo frenético de conquistas e realizações que leva embora o caráter a humanidade de muitos.

“VALORES” é um questionamento ao modus operandi que por vezes tem dominado a mente humana na busca inescrupulosa pelo dinheiro. Na primeira estrofe a cena hip hop com as famosas diss (rap’s onde o alvo é se tornar famoso denegrindo ou expondo ao ridículo outro rapper), criando guerras perigosas pelo simples desejo de aumentar a visibilidade artística e consequentemente views, plays e dinheiro é o alvo. Na segunda estrofe Biorki ataca os valores da atual sociedade brasileira se vendendo pelo “deus da nota de cem”.

“BREU” traz uma característica que acho interessante nas composições de Biorki: A capacidade de se expor com figuras de linguagem simples que nos arrasta para dentro da música. “Breu” tira a roupa de “santo” e apresenta o “humano” frágil mergulhado na escuridão da alma.

“VIDA QUE SEGUE” som que ganhou clipe, traz aquele clima bom para chamar a gente a olhar para vida com simplicidade, mais amor e menos egoísmo. Olhar mais para o próximo, entender opiniões e sem a polaridade. Um interessante chamado a “maturidade e respeito” muito pertinente em dias atuais.

“RESPONSA” tem W.Will e Pedro Vuks. Um dos sons mais “eletrônicos” do disco, pode ser considerada a parte dois de “valores”. Os 3 rappers apresentam suas rimas e discorrem sobre valores, responsabilidades, lutas e vitórias. Produção de DNT Beatmaker.

“PENSO” é um mergulha a mais um momento de reflexão dentro dos pensamentos de Biorki. Nesse interlúdio mais uma vez o mote para as rimas é o relacionamento humano, os conflitos da alma e o amor ao próximo. Quando a faixa acaba fica a sensação de “não tem mais?”, o que pra mim mostra que ela foi perfeitamente executada.

“AME, É SIMPLES” também é uma das faixas anteriormente lançada e fecha o disco. O tema eu considero o mesmo que encontramos na faixa “Vida que segue”, embora nunca é demais uma provocação ao respeito e amor ao próximo tão necessária nos dias atuais. Nesse caso, posso estar equivocado, mas acho que essa provocação é para os que possuem os valores cristãos mas por muitas vezes tem confundido sua fé com discurso de ódio.

No geral, “SIMPLICIDADE” traz de fato um convite a vida que valoriza o simples, mas por outro lado muito complexo: o mergulho dentro de si para questionar valores que podem detonar o primeiro e o segundo mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a nós mesmos.

Escute o disco “Simplicidade”:

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