Mahalia Jackson, a rainha do gospel

A rainha do gospel tinha que ser ela: Mahalia Jackson. É fato que algumas gerações, principalmente fora dos EUA, desconhecem o legado da cantora que simplesmente se tornou referência para Aretha Franklin, Dionne Warwick, Whitney Houston. Mas a história dela não se resume a isso. A cantora é uma das responsáveis pela popularização do gospel (“original”).

Ao conhecer Thomas Andrew Dorsey (O pai do gospel) em 1929, Mahalia começou escrever sua trajetória ao unir a musicalidade considerada profana (como blues e jazz) com mensagens do evangelho de Cristo que ouvia desde pequena nas pregações de seu pai, o Rev. John A. Jackson, Sr. A paixão pela música se aflorou nas audições de músicas da tríplice coroa do Blues: Ma Rainey, Mamie Smith e Bessie Smith. Mas ao se decidir cantar profissionalmente, Mahalia não queria seguir o mesmo caminho delas, principalmente de Bessie, a cantora que ela mais se espelhava, no estilo e na forma de interpretar. Sempre quis cantar gospel, porque era sua verdade.

“As pessoas sempre me importunavam para que eu me tornasse uma cantora de blues. Minha resposta sempre foi a mesma: a pessoa que apenas canta blues, é como alguém que está em um poço profundo gritando por socorro, e eu não estou nessa posição. Nunca vou trocar minhas canções de gospel pelo blues. O blues fala de desespero, mas o gospel fala de esperança”, escreveu ela na autobiografia “Movin’ On Up” (1969).

Apesar das diversas recusas de assinar com um selo para interpretar o “maldito” blues, Mahalia Jackson não resistiu ao convite da Decca Coral para fazer seu primeiro registro oficial em 1937— que faria parte de uma série de compactos. O que era um sonho, virou pesadelo para ambas as partes. Diferente das expectativas da Decca, uma das mais importantes gravadoras dentro do “nicho” de música racial (gravada e vendida especificamente para negros), o disco de Mahalia não decolou. Entrou no limbo. Na sequência, Jackson com 26 anos de idade foi dispensada. Porém, manteve a fé. Sabia do seu potencial. E também de qual forma conseguiria fazer sua voz tocar aos corações, mas isso não aconteceu da noite para o dia.

Mesmo sem ter um mercado religioso forte, Mahalia Jackson mudou todo o cenário em 1948 (11 anos depois da sua fracassada estreia) com a música “Move On Up A Little Higher”, composta pelo hitmaker William Herbert Brewster. Rapidamente, o single lançado pela Apollo Records estourou, vendendo mais de 2 milhões de cópias (78 rotações).

O sucesso de Mahalia não foi uma surpresa para aqueles que a conheciam. E cada vez mais ela conquistou espaço fora dos templos da igreja: foi a primeira cantora evangélica a se apresentar no The Newport Jazz Festival e no cobiçado Carnegie Hall; cantou na posse de John F. Kennedy, em 1961; se tornou uma das grandes aliadas de Martin Luther King Jr.na luta pelos direitos civis, se apresentando em alguns encontros e manifestações, e também no funeral de MLK.

Essa é apenas uma pequena porcentagem da rica história de ativismo, resistência e conquista dessa mulher negra de Nova Orleans. Não por acaso, Jamie Foxx, Queen Latifah, Shakin Copere e Holy Carter se juntaram para produzir um filme biográfico para honrar o legado dela. O roteiro, baseado no livro “Mahalia Jackson” da Darlene Donloe, será escrito por Richard Hocutt, Mark Gould e Tricia Woodgett. A cantora Jill Scott interpretará Mahalia.

O longa, que possivelmente terá o título de “Mahalia!”, ainda não tem previsão para chegar às telas. Mas já gerou expectativas por todo o time que está envolvido.

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