#GospoAnálise | Pregador Luo – Governe!

Governe-[menor]

Em outubro de 2015 foi lançado por Pregador Luo, dois anos depois do insosso Único Incomparável, Governe!, pela Universal Music. Em 2014, por meio do Instagram, o rapper anunciou que “retornaria às origens”. Isso seria bom, certo? Certo. Mas será que ele conseguiu? Se você não ouviu Governe!, recomendo ouvir e tirar suas próprias conclusões. Estas são as minhas.

Governe! teve produção musical do próprio rapper; a gravadora não interferiu no processo criativo dele. A capa do disco foi feita pela agência J. Pires, que utilizou na capa a técnica de double exposure, que é basicamente a sobreposição de imagens. Na capa, Pregador Luo aparece e sobre ele tem fotos de grandes acontecimentos mundiais e personalidades sobrepostas, além de prédios ao redor. Entretanto, a técnica tem sido bastante utilizada. A trilha sonora do filme Nocaute, Rise, do Trip Lee, I Am Mountain, de Gungor e até no Brasil, Laços, da Rafaela Pinho e Ninguém Explica Deus, do Clóvis Pinho, utilizam a mesma técnica nas capas. Esses são alguns projetos gráficos que citei. Porém isso não tira o mérito da capa, que é uma das melhores do Luo.

“Resista”, a introdução, dá a premissa não só da música título que viria em seguida, mas de todo o álbum: a resistência a Satanás, e como no texto de Gênesis 1:26, tomar a posição de domínio, governo nos dias de hoje.

E na faixa seguinte, “Governe” surpreende, tanto com o instrumental, que é trap, como com a letra. Ele prometeu e cumpriu, soltando o verbo sobre política e sim, religião. “Máfia, conchavo, conspiração/Fome de poder em qualquer escalão/Líder religioso negocia a congregação/Massa de manobra, alienação”… “Política é um jogo que se joga na lama”.

Ele continua o discurso de “pregador” com “Tem Que Ser Mais Ousado”, numa orientação para os jovens estudarem ao invés de tentarem a vida fácil do crime. A interpretação na música ficou excelente, sério. Além do trap contagiante, daqueles que te fazem balançar a cabeça. É a que mais lembra a fase APC 16, principalmente nas vozes.

“Não vou deixar” continua o propósito do disco. A batida pesada permanece, e a letra fala sobre resistência, de fato. O refrão declara: “Não vou deixar meu coração se encher de amargor/nem minha mente vazia pro demônio entrar nela/nem trocar minha salvação pelos manjares do mundão/nem vou sair da luz, nem me perder na escuridão”. Nas três estrofes, a música conta como ele pretende não cair na conversa do maligno, e até onde essa história levaria, se caísse nela.

Percebe-se a ligação das três músicas. “Governe” trata-se de tomar posição como alguém que serve a Deus no tocante ao mundo ao seu redor e à igreja. Posicionado, “Tem Que Ser Mais Ousado” mostra a ajuda que alguém firme no Senhor pode dar a quem está ouvindo, e “Não Vou Deixar” faz referência a própria vida dele ao permanecer firme, até porque tem que tomar cuidado pra não cair, né?

“Blindadão” faz aquela mistura de funk com rap e que devo admitir, achei interessante. Mas claro, não é a primeira vez que o rapper flerta com o funk. E aqui, percebe-se a primeira referência à “Mitologia Luo”. Como assim? É aquela referência que se faz a músicas anteriores dele. Quando ele canta “Pra colar nesse bonde, tem que ser mil grau/tem que tá na linha, tem que ser legal/porque sem Deus e seu amor incondicional/vagabundo passa mal, passa muito mal”, é impossível não lembrar de Amor Incondicional, do álbum D’Alma.

Tudo muito bem, tudo muito bom, mas a partir daqui, fica complicado continuar ouvindo o disco. “Marfim” trouxe uma coisa que é insuportável: o Luo cantando algo que não seja rap e com divisão vocal. Não é natural, e ouvindo-o em registros mais agudos, deixa evidente que não fica agradável. Além disso, a própria música não ajuda. A letra fala de superação, mas de uma forma que parece autoajuda.

“Derrubando Muralhas” já não se usou os registros agudos, o que torna mais fácil de ouvir. Mas apesar de utilizar o reggae com rap, o que é uma coisa muito legal, parece que ficou faltando alguma coisa na música.

Na minha opinião, se você cantar a Bíblia, não tem como errar. E é verdade. A letra de “Em Tudo Está” é basicamente o Salmo 139. A letra é bastante bonita porque o salmo é, e o Luo não fugiu do texto bíblico. Mas o instrumental poderia ser um pouco mais trabalhado, e aqui eu já começo a sentir falta de participações especiais. O mesmo digo de “Mova Minhas Águas”, que apesar de um instrumental melhor, a letra é boa, mas faltou participações especiais.

O single do álbum, “Testemunhe”, é outra que precisava de participação especial. Além disso, digo que a própria “Governe” seria um ótimo single no lugar dela.

Não só as participações especiais faltaram, mas percebi que outra coisa aconteceu. Na verdade, o ritmo do disco diminuiu bastante. Isso quase me impediu de chegar até “Pai Nosso”, que tem uma letra muito boa e mais uma vez bate nos mercadores da fé. “Hipócritas oram pedem que seja feita a sua vontade/Mas se queimam todos os dias na fogueira das vaidades/Distorcem santas verdades se portam como covardes/Comercialização e vendem a fé para obter propriedades”.

O disco segue com “Minha Alma é Triste, Mas é Feliz”, que trata basicamente da dualidade que tem a alma humana, em que ora vive alegria, ora se entristece. Seguindo o clima reflexivo do disco, “Perdão (Filho Pródigo)” é basicamente uma versão moderna da parábola do filho pródigo. É interessante ouvir.

“Faça o Bem” é uma música que eu conheço bem. De primeira, fiquei com aquela impressão que já ouvi antes, sabe? Mas não era só impressão. É uma colcha de retalhos. Tem uma estrofe inteira que ele trouxe da própria participação que fez em “Sinais”, música que é do grupo Manuscritos (aliás, sdds Manuscritos). Outra estrofe veio inteira de “Fim dos Tempos”, música que cantou com DJ Alpiste e está no álbum Coisas que Você Precisa Ouvir. Só uma estrofe na música é inédita. Mas o instrumental merecia uma letra maneira, e acredito que seja por isso que o Luo “formou” “Faça o Bem”. Bem escatológica a música – é no sentido de últimos tempo mesmo, tá?

“Rolê da Consciência” é a música que junta os nossos “desajustados”. A música conta de um passeio onde ele encontra o jovem vendedor de drogas que quer sair da vida de crime, o negro que ganha menos que o branco, a mulher violentada, o gordinho e a nerd. Toda essa galera merece uma segunda chance e merece virar o jogo.

Muitos hão de concordar que “Muita Treta” é uma música icônica da década de 2000 e ainda é atual. Só que eu não sei o que se passou na cabeça do Pregador em fazer uma música antagônica a essa. “Glória, muita benção, glória, muita benção/É muita benção!”. “Muita Bênção” tem esse refrão cheio de “evangeliquês”, e entendi a intenção da música em dizer que “Eu canto muita treta porque o mundo assim que é/Mas também canto muita benção porque é assim que Deus quer”, mas a execução não foi boa. Talvez com outro refrão a música funcionasse melhor. Apesar de pessoalmente eu não ter gostado da música, a terceira estrofe revela um testemunho dele de como era a vida antes de se estabelecer como artista, e foi bom saber um pouco mais.

O disco segue com “Coração é Frágil”, que trata de jugo desigual em relacionamentos, “Andei Vagando” e “Sentimento Bom”, que utilizou o recurso da “Mitologia Luo” no refrão: “Joga a mão pro alto, festeje e bate palma/Deixa aflorar o sentimento bom que vem de dentro d’alma”. Oficialmente, o disco termina com “Assuma o controle”, que continua, num âmbito cultural, o que já “Governe” abordou. A faixa bônus, “Lázaro”, está disponível no Spotify e no Apple Music.

Governe! começou muito bem, mantendo-se fiel ao título, mas depois se perdeu. Perdeu ritmo e perdeu por não ter participações especiais. Para um rapper hoje em dia, isso é algo comum e necessário, até. São 20 faixas 78 minutos de disco (com a faixa bônus, são 21 faixas na versão digital e 82 minutos) que se tornaram maçantes por causa do excesso de músicas mais reflexivas. Não que elas sejam ruins, porque não são, mas porque poderiam facilmente estar em outro projeto dele. Vale ressaltar que o Pregador Luo é um ótimo letrista. Se o disco fosse mais enxuto, com 12 faixas, ou até mesmo se fosse um EP, seria muito melhor.

Quanto à produção musical, o Luo fez uma produção boa, considerando o conjunto da obra. Algumas faixas têm instrumental muito bom, mas outras faixas já não empolgam tanto.

Feitas as considerações sobre o álbum, Pregador Luo traz em Governe! mais sombras do D’alma do que de 2ª Vinda [A Cura]. Então, na minha opinião, ele só revisitou essas fases musicais. Também pudera. O Luo de 10, 15 anos atrás não é o mesmo de hoje. Ele tem as origens dentro de si, mas não as expressou totalmente no disco. Porém na músicas em que ele as expressou, foi um fan service bem feito. Então, por isso, já que o álbum não é “fácil de ouvir”, ou seja, daqueles que se ouve por inteiro e não se sente vontade de pular faixas, vale a pena escolher as músicas que mais gostar em Governe! e colocar na sua playlist.

2 Comments

  1. Roberto

    25/03/2016 at 23:26

    Análise furada, então quer dizer que o álbum se torna ruim, fraco, ou perde o ritmo só por não ter participações especiais? Não sabia que a falta de participações influia na qualidade musocal de um cd.E outra, voce falou que a “Assuma o Controle” está falando sobre o que a música “Governe” já tinha, alto lá amigo, a segunda música aborda mais temas políticos e religiosos, falando de corrupcão nessas áreas, já a primeira aborda isso tambem, mas de forma diferente, e ainda toca na questão cultural do nosso país. Que fala sobre o lixo cultural que nós brasileiros muitas das vezes consumimos em forma de música,programas de tv,novelas e muito mais, e ainda aborda o declínio do Brasil no esporte, que temos como exemplo o futebol, que éramos referências nesse sentido, hoje em dia viramos motivo de chacota.
    Voce não citou as diferentes influências musicais nas outras faixas ,só nas primeiras músicas que são tocadas, que são óbvias. Poderia ser melhor na sua análise amigo, deixou muito á desejar.

  2. Roberto

    28/03/2016 at 20:39

    Nessa música “Faça o Bem”, voce disse que ela tem uma estrofe inédita, no caso é a segunda, sendo que não é, mano. Ela faz parte de uma participação que o Pregador Luo fez na música “Um Por Todos”, do Ao Cubo, outro ponto a menos para a sua análise.

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